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Luana e o Poder da Representatividade



Existe uma situação recorrente na vida das mulheres: nos ensinam a ser menores, a caber em molduras apertadas e a nos calar no "cercadinho" social frequentemente. Desde pequenas, ouvimos que devemos sorrir baixo, aparecer pouco, não ser expansivas e falantes. Quantas vezes nos silenciaram? Perdemos as contas.

E esse silêncio custa a paz de quem?

Outro dia, li um comentário na foto de uma mulher que dizia: "Ela quer aparecer". A frase foi escrita como uma crítica, o que após reflexão para mim, soou como um elogio. E sim, nós queremos aparecer. Imagina? Viver uma vida inteira como um segredo?

Nascemos para ocupar espaço, para escrever e fazer história. Que o universo nos livre de ser silenciadas, escondidas, de guardar toda essa vida que carregamos.

Por que deveríamos ser menores? Por que é ruim uma mulher "aparecer"? Se fosse um homem, seria julgado como super seguro, não?

Nós, mulheres, vivemos diariamente inúmeros dilemas insolúveis: nos posicionar sem parecer arrogantes, questionar sem sermos vistas como "exibidas", falar com clareza, mas em tom angelical, sorrir sem exageros para não perder credibilidade, vestir-nos bem, mas sem chamar atenção para evitar qualquer má interpretação, discutir, mas com atenção dobrada ao tom de voz para não julgarem nossos hormônios. Ser bem-sucedidas, mas amparadas quase sempre pelo discurso de que "provavelmente teve o apoio financeiro de um homem".

"Concordem com tudo, e se discordar a chamaremos de louca".

Somos idealizadas em estereótipos sufocantes todos os dias, nas entrelinhas e escancaradamente (e até por mulheres, o que é mais babilônico ainda).

É um problema social confundir empatia feminina com disponibilidade infinita, e é preciso normalizar os questionamentos, os "nãos" e os posicionamentos de uma mulher sem julgá-la como paciente de um hospício.

Li esta semana no Estadão que a confusão (amplamente comentada nas redes sociais) entre Luana e o jogador deve enterrar a PEC da privatização das praias. Veja, uma mulher usou sua voz sem medo e interrompeu uma discussão que tramitava nas sombras do plenário. Isso mesmo! Uma mulher com coragem suficiente para mudar o curso das coisas.

Tem uma frase de Sarah Aline que diz: "A nossa satisfação é enviesada pelo que os outros esperam, quando a verdadeira satisfação deveria ter só uma régua: a nossa."

Mulher, este mundo é teu. Não se diminua. Quer aparecer? Apareça. Ocupe cada centímetro do espaço que te pertence. Seja ouvida, vista. É possível existir sem perfeição e, a partir dos defeitos e qualidades que compõem a nossa existência, sem ter que necessariamente caber em um discurso. Porque somos únicas.

Nascemos para aparecer, para viver plenamente, para ser o que quisermos ser. Só é possível ressignificar narrativas problemáticas sociais a respeito da mulher com posicionamento, ainda que isso nos rotule e nos canse em alguns dias...