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A IMPUNIDADE MASCULINA

 


Por Thane - É com profundo pesar e incômodo, que venho tocar em uma ferida que foi feita a centenas de anos, mas frequentemente é aberta novamente, nada acontece… e o ciclo se repete. 

Muito provavelmente, você ficou sabendo que o ex-jogador de futebol Daniel Alves foi acusado e esta sendo julgado pelo crime de estupro de vulnerável, uma vez que a vitima encontrava-se em estado de embriaguez. 

Muito provavelmente você também sabe que recentemente ele pagou a fiança de 1 milhão de euros, o equivalente a 5,4 milhões de reais, e após sua defesa ter recorrido a sentença por quatro vezes, o tribunal principal de Barcelona aceitou o pedido para que o criminoso aguardasse em liberdade pela decisão final. 

“O tribunal delibera, por maioria e com voto individual: 'Acordar a prisão provisória de Daniel Alves, que pode ser evitada mediante o pagamento de uma fiança de 1.000.000 euros e, se o pagamento for verificado, e acordada a sua libertação provisória, ou retirada de ambos os passaportes, espanhol e brasileiro, a proibição de sair do território nacional, e a obrigação de comparecer semanalmente a este Tribunal Provincial, bem como quantas vezes for convocada pela Autoridade Judiciária", disse a sentença.” - Sentença do Tribunal Espanhol. 

Após ser solto, Daniel Alves seguiu para sua casa, que fica em um bairro nobre da capital catalã. 

Para além deste fatídico caso, inúmeras são as denúncias de abusos sofridos por mulheres que diariamente sofrem violações contra sua dignidade e segurança, e na grande maioria dos casos, principalmente aqueles que não são midiáticos, a palavra da vítima não tem peso o suficiente para alcançar sentença favorável a sua segurança. 

Embora a proteção da dignidade sexual seja garantida por diversos códigos penais e constituições ao redor do mundo, quando um caso de abuso ocorre, a vítima enfrenta uma verdadeira batalha ao invés de ter sua integridade defendida e resguardada, visto que sua palavra é sempre desacreditada, e mesmo que seja constatada a veracidade através de provas periciais, testemunhais, e esgotada as formas legais, a vítima continua a ser indagada a respeito de seus relatos. 

A lei opera para aqueles que a criaram, ela beneficia aqueles que detêm o capital, ou seja, para aqueles que podem pagar mais... E historicamente falando, em nossa sociedade, homens são possuidores desses meios, consequentemente a lei é em benefício dos mesmos.



Uma forma de aversão à mulher foi plantada a séculos, uma visão meramente sexista, que coloca a mulher em uma categoria de inferioridade em relação ao homem, cria-se então uma cultura onde homens acham que merecem e podem fazer o que bem entendem, mesmo que seja proibido por lei e passível de penalidades, afinal, eles podem pagar e se safar dessas penalidades. 

Como iremos ensinar nossas meninas a perseguirem seus sonhos, se onde vão, são perseguidas? Como podemos desejar ser felizes sozinhas, se ao estarmos nessa condição, viramos presas para aqueles que nos enxergam como tal? 

A impunidade masculina é um problema que assola nossa sociedade há muito tempo. Uma sombra que encobre nossa humanidade e perdura, pois há quem a defenda, há quem a encubra, há quem pague para que ela continue ocorrendo.

Infelizmente não temos como alterar o passado, não conseguimos mudar as raízes de uma cultura que ensina homens a verem mulheres como meros objetos para seu deleite.

Mas podemos mudar nossos próprios pensamentos, podemos ensinar as novas gerações, que independente do sexo, todos possuem os mesmos direitos, à dignidade, à liberdade e a proteção.


Manifestar nossa insatisfação e repulsa contra um caso desses, é uma forma de nos posicionarmos contra impunidades que ocorrem a séculos, mas que precisam ser cessadas, o quanto antes.