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A mulher no mercado editorial


É verdade que novos talentos artísticos podem desanimar com as pressões e expectativas sociais que enfrentam. Quantas artistas da grandeza de Lispector e da singularidade de Rita já perdemos, tendo como principal causa o medo e insegurança que acometem rascunhos de novos artistas?! Inúmeras.


É comum que artistas novos sintam essa insegurança. Somado a isso, hoje temos ainda a internet como potencial "juiz de conteúdo". O ambiente online e as notícias que correm em segundos podem ser desanimadores para novos artistas – ainda que saibamos que a arte é subjetiva e as opiniões podem (e devem) variar de acordo com a percepção de cada pessoa. Isso é arte: um mundo infinito de possibilidades.


A conversa fica ainda mais complicada quando o assunto é direcionado para a desigualdade de gênero. Historicamente, existe uma disparidade na representação de gênero no mundo literário, com uma tendência de maior publicação de obras escritas por homens. Essa desigualdade literária tem raízes profundas na história, refletindo normas sociais e estruturas de poder.


Importante destacar a necessidade de uma mudança significativa para garantir mais visibilidade e oportunidades para as escritoras. O caminho para a equidade de gênero no mercado editorial ainda é longo, mas há esperança de progresso com as vozes que continuam a desafiar essas barreiras. A prática de mulheres escreverem sob pseudônimos masculinos como estratégia para serem reconhecidas na literatura é um reflexo das barreiras históricas enfrentadas. A busca por uma ruptura nesse cenário, com maior visibilidade e oportunidades para escritoras, é crucial para promover uma mudança significativa no mercado editorial brasileiro. Essa transformação não apenas reconheceria talentos esquecidos, mas também enriqueceria a diversidade de vozes na literatura. Além disso, o que uma mulher escreve é quase sempre julgado como autobiográfico, um movimento claro de descredibilização da criatividade feminina.


Com essa evidente disparidade de representatividade de gênero no mercado editorial, é urgente reconhecer e promover ativamente a leitura de obras escritas por mulheres para ampliar a diversidade de perspectivas e vozes na literatura.


O ano de 2014 foi marcado pela publicação de uma antologia com uma representação desigual de gênero entre os autores essenciais, o que impulsionou discussões importantes. No mesmo ano, a autora e ilustradora Joanna Wash, com o intuito de aumentar a visibilidade das autoras e incentivar a leitura de suas obras, criou o movimento "Leia Mulheres", que destacou a importância do engajamento na promoção da equidade literária. Com o movimento, formaram-se clubes literários que perduram até hoje, inclusive no Brasil.


Uma observação crucial: No Brasil, essa diferença no mercado editorial não é uma entidade isolada, mas sim um reflexo de questões estruturais mais amplas na sociedade em que vivemos. A compreensão de que o machismo está enraizado em vários setores é essencial para abordar as desigualdades de gênero de maneira abrangente. A mudança efetiva requer esforços em níveis sistêmicos, indo além do próprio mercado editorial.


Escrever pode ser intrinsecamente político. As histórias e universos criados muitas vezes refletem ou desafiam aspectos da realidade. Além de trazer visibilidade à voz de uma mulher, a escrita pode se tornar uma ferramenta potente de expressão de pautas sociais importantes.


Seguimos então com coragem e ânimo para mudar esse cenário, seja apoiando a arte, lendo ou indicando um livro escrito por uma mulher. Como bem escreveu a brilhante Lygia Fagundes: "Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas".


Para finalizar, uma proposta de leitura: "Corpo desfeito", de Jarid Arraes, que é uma escritora, poeta e cordelista brasileira, nascida no Ceará. A autora é conhecida por seu trabalho literário engajado, explorando temas relacionados à mulher, feminismo e questões sociais. "Corpo desfeito" tem uma linguagem hábil e muito bem colocada em uma história sobre como lidar com as marcas construídas na infância. Leitura incrível e impossível de esquecer.


Tem uma autora ou livro para indicar? Deixe nos comentários.

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