-

Trabalho Remoto em Declínio: Empresas Priorizam o Retorno aos Escritórios



Por Felipe Preto - A tendência do trabalho remoto parece estar perdendo força, ao contrário do que muitos previam. Durante a pandemia, o "anywhere office" ganhou destaque como uma solução para a continuidade das atividades profissionais. No entanto, as empresas agora estão revertendo esse cenário e incentivando o retorno aos escritórios.

Um exemplo disso é a designer de produto Laísa Andrade, que desfrutou da liberdade de trabalhar remotamente para a empresa Frete Rápido. Ela pôde visitar sua família em Nova Serrana (MG) e manter seu expediente sem problemas. No entanto, essa realidade está mudando à medida que empresas em todo o mundo estão reduzindo as oportunidades de trabalho remoto.

De acordo com dados do LinkedIn’s Economic Graph, a quantidade de vagas de emprego que mencionam a possibilidade de trabalho remoto diminuiu significativamente. Em fevereiro deste ano, apenas 25% das vagas no LinkedIn ofereciam essa opção, em comparação com 39% no ano anterior.

Essa tendência também é observada nos Estados Unidos, onde a oferta de trabalho totalmente remoto caiu de 18% para 9% em julho de 2023, com um aumento no trabalho híbrido de 8% para 13% no mesmo período.

Mesmo as grandes empresas de tecnologia, que anteriormente eram favoráveis ao trabalho remoto, agora estão pressionando os funcionários a voltar aos escritórios. A Amazon, por exemplo, passou a exigir a presença de seus funcionários pelo menos três dias por semana nos escritórios.

Essa mudança de rumo tem como base a produtividade. Uma pesquisa da Universidade de Stanford revelou que o trabalho totalmente remoto pode ser até 20% menos eficiente, dependendo da área de atuação e da preparação das empresas para essa modalidade.

Ricardo Basaglia, CEO do PageGroup Brasil, afirma que muitas empresas não conseguiram manter a produtividade após o período de isolamento e que o trabalho excessivo durante a pandemia afetou a saúde mental dos trabalhadores.

Com o retorno ao ambiente de escritório, a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional foi restaurada, mas muitas empresas não fizeram as adaptações necessárias para tornar o trabalho remoto sustentável. Segundo Basaglia, quatro pilares são essenciais para essa sustentabilidade: cultura organizacional, liderança preparada, ferramentas adequadas e definição clara de responsabilidades.

Anna Cherubina, professora de MBA da FGV e especialista em gestão de pessoas, acredita que a desconfiança dos empregadores em relação ao trabalho remoto também desempenha um papel importante na volta aos escritórios. Muitos gestores preferem a supervisão constante e acreditam que é mais fácil detectar desengajamento no ambiente presencial.

No entanto, a pesquisa mostra que a maioria dos profissionais prefere o trabalho remoto, pois elimina deslocamentos, economiza tempo e oferece um ambiente de trabalho mais concentrado.

O impasse entre empregados e empregadores em relação ao retorno aos escritórios tem causado impactos no clima organizacional e na retenção de talentos. Flexibilidade parece ser a chave para manter os funcionários satisfeitos, e o modelo híbrido, que combina trabalho em casa e no escritório, pode ser a solução mais saudável para esse dilema.

Em resumo, enquanto a tendência de trabalho remoto perde espaço, as empresas estão incentivando o retorno aos escritórios, considerando a produtividade e a desconfiança como principais motivadores dessa mudança. No entanto, a preferência dos profissionais pelo trabalho remoto e a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional ainda são fatores importantes a serem considerados. O modelo híbrido pode ser a resposta para conciliar essas necessidades.